terça-feira, 19 de outubro de 2010

FATO 29: O confidente (III)



Já chega. Achei que fosse uma fase, mas esse sentimento que me angustia insiste em reaparecer.
Ele me corrompe, me deixa revoltado, amargurado e com um vazio dentro do meu ser.
É o meu próprio eu contra o eu. Aos poucos consigo tomar em conceitos esse sentimento que me aflige. E por palavras vou tentar defini-la.
Vejo minha ignorância, me sinto um fútil, não tenho complexidade no meu ser, não possuo um repertório cultural, ou conhecimentos que estejam incrustados em mim. O conhecimento não sou eu, eu apenas tenho posse sobre ele. Me sinto envergonhado por não ser capaz de tanto, assim como outros são. Poliglotas, gênios, vanguardistas, pensadores unanimes! E eu? Não sou nada.

Não consigo, quer dizer, tenho potencial, todos temos, e então porque eu não consigo despertar isso em mim, não sou capaz de me tornar o conhecimento. Porque me prendo tanto, me preocupo tanto? Eu mesmo sou as correntes que quero quebrar, mas se os fizer, vou desestabilizar minha segurança, a certeza de quem sou. Ou a ilusão de quem sou.
Sou tão pobre intelectualmente que nem consigo me expressar com palavras e frases sólidas, frases de efeito e clareza de forma que transponham exatamente o que sinto.
Incapaz até de tentar querer mudar, só depende mim, e eu desejo, mas minha atitude tanto mental como espiritual não consegue me levar à como desejo ser.
Queria ler, estudar, pesquisar e incorporar o conhecimento em mim, conhecer livros e autores, citações e feitos. Porque raios, quando eu pego um livro sinto como se fosse uma perda de tempo e que poderia estar fazendo algo mais ativo. Porque diabos então não consigo me disciplinar a conseguir me interessar pelo conhecimento. Ou melhor, de certa forma me interesso, mas não sou capaz de assimilá-lo.
Eu sou o único que possui as respostas, o único que pode incorporá-las.
Eu dependo demais dos outros, não consigo ser um autodidata, sempre procuro alguém para me guiar, para ter a impressão de que estou no caminho certo. Eu tenho medo de fazer um caminho errado, e ter a impressão de que só perdi tempo.
Tempo, eis uma coisa que me perturba ultimamente. Antes mal me preocupava com esse conceito, mas agora, me sinto como uma formiga em uma ampulheta.

Me sinto um estranho no ninho. Por vezes me sinto incompatível em grupos sociais. Meu comportamento, meus pensamentos me angustiando, não consigo viver o momento. O pior, é que só eu posso me tirar dessa situação. E eu ainda espero que isso passe sozinho, que é só uma fase, que por puro fluxo da vida isso vai passar.
Mas não vai. Até eu me encontrar até eu definir o que sou, eu não vou me inquietar. E não sei quanto isso vai demorar. Queria eu ficar louco e não ter mais preocupações.

Queria eu, voltar a ser iludido por mim mesmo e pelo mundo.Ou talvez não...

Estou em uma fase de transição. Não sou mais aquele que acredita em tudo, que pensa que tudo esta bem, que aceita os acontecimentos e convivência. Mas também não sou aquele que tem uma posição, um conhecimento capaz de superar essa fase, um intelecto que não tem mais preocupações por conhecer as coisas.
É como entrar em uma realidade e não poder voltar mais. Depois que você adquire um senso crítico, um pensamento além do esperado, você não pode voltar mais ao sossego. Você tem que se adaptar a isso, ou vai ficar sempre com essa angústia no peito.
Eu quero que meus amigos me entendam e gostem de mim, mas não estou mais sendo capaz disso, estou paranóico comigo mesmo, eles são os mesmos, mas será que ainda me enxergam com a mesma mentalidade de antes? Minha imagem mudou, ou eu ao menos estou achando isso e faz com que eu me torne recluso, e talvez por isso, ai sim as pessoas me vejam de outra forma, ai sim me tornando um recluso.
Ao menos escrevendo, de certa forma, uma ilusão de desabafo acontece. Ao menos deixo mais explicito o que me amargura. Uma forma de alívio.
Ainda sim, eu permaneço o mesmo.

O ignorante.

O hipócrita.

O egoísta.

Além de outros adjetivos que se enquadrariam na minha personalidade, mas essas são as que me fazem mais sofrer nesse momento, e as que mais se evidenciam.
Eu me considerava inteligente, considerava que minha mentalidade tinha capacidade de ter um senso crítico e uma linha de pensamento coerente, mas vendo um pouquinho mais do mundo, eu vejo que sou mais um ignorante. E sou o pior de todos, porque fui capaz de enxergar isso e admitir, e ter vontade de mudar, mas ainda sim não sou capaz de sair dessa mediocridade. Esse é o pior dos ignorantes, a verdadeira definição de ignorante.

Com qual disposição eu ainda consigo ser eu mesmo? Essa corrente chamada eu, é mais difícil de ser rompida do que pensei. Eu espero sinceramente que ninguém passe essa angústia aparentemente sem motivos.
Além do mais quero agradecer. Agradecer a todos que eu convivo e já convivi. Agradecer os elementos que compuseram a minha vida. Agradecer ao mundo por ser assim. Agradecer cada “lei” que rege a natureza dessa realidade. Sim. Isso talvez me faça sentir melhor, mostrar como apesar de tudo, ainda sim consigo ser um real apreciador desse mundo e de cada ser vivento ou não que nele habita ou se encontra.
Cada um foi importante na minha formação, na minha personalidade. Por mais efêmera que foi nossa interação, uma parte de você ficou em mim.
Agora eu consigo “entender” porque acreditamos em um deus. Acreditar que mesmo com tudo, tem alguma força, energia que está sempre ativa e nos acompanhando. Sendo o mentor dos caminhos e do destino.
Infelizmente eu não tenho mais esse apoio. Ou melhor, não acredito em mais nada que o homem uma vez disse sobre esse deus.
O deus que eu acredito sou eu. Ou melhor, ele é tudo, uma espécie de energia infinita. Eu não sei.
Realmente não sei o que pensar e talvez seja assim mesmo. Deus não deve ser pensado ou discutido. O importante, se é que você acredita, é que ele está contido e indo mais além, talvez de fato “ele” seja onisciente e sendo a “criatura” mais sensata de tudo, afinal se nós mesmo temos essa impressão de racionalidade, porque a existência suprema não seria?

Eu só cai pra esse papo pra mostrar como sou dependente, quero que alguma outra coisa, além de mim, assegure minha existência, a minha estabilidade. E agradecendo, deve de alguma forma ativar uma parte do meu cérebro que me tira uma culpa de estar desse jeito, automaticamente me sentindo mais confortável.
Em especial quero agradecer quem leu o texto inteiro e de certa forma se identificou, ou ao menos, me entendeu, ou simplesmente pode tirar algum proveito dessa leitura, afinal é para isso que existe essa arte de ler.

2 comentários:

  1. Haha. Gozado como acabei de fazer um post no meu blog antes de ler isso! Seria bom se lesse, e coloquei mais um especialmente para você lá AMIGO!

    Tente tomar cuidado com o Ego, e não se preocupar com o "conhecimento", pois isso não quer dizer inteligência (como já pude provar várias vezes), ele virá de acordo com seu ritmo e necessidade.

    Se ainda estiver com estes sentimentos até o final de semana eu gostaria de conversar com você. Assim poderíamos ajudar um ao outro, pois também passo por algumas "desconfortâncias" psicológicas.

    Abraços!

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  2. Quanto a onisciência de "Deus" eu estou desenvolvendo uma nova teoria com bases ciêntificas.

    Como o sol que trabalha com ondas eletro-magnéticas, e devido a elas podemos nos comunicar a grandes distâncias através de sinais eletrostáticos como o rádio.

    E nosso cérebro também trabalha com ondas denominadas com letras do alfabeto grego, como alfa, beta... E numa especulação ousada posso supor que um indivíduo que ultrapasse mais de 30 Hertz (que é o que um cientista concentrado em seu trabalho produz em seu tele-encéfalo altamente desenvolvido), poderia ter o "dom" da telepatia, pois seria uma comunição em alta frequência invisível aos olhos, e se extenderia pelo ar, mas há talvez um outro fato que poderia acontecer…

    Sua cabeça poderia brilhar.

    como por exemplo: Jesus
    Horus
    Buda
    Krishna
    Zaratustra
    e muitos outros.

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