sábado, 9 de outubro de 2010
FATO 21: O confidente(I)
Me disseram que nunca é tarde pra se começar um diário. Eu também achava que não, mas por mero comodismo não o fiz.
Relatar seus pensamentos, angústias, alegrias, enfim, sentimentos e emoções para que mais tarde leia e veja sua mudança. Ver o que você temia, o que te alegrava, ver como você era e poder rir, se emocionar ou pensar sobre isso. Além de documentar você também pode refletir.
Diário deveria ser uma coisa pessoal? Talvez sim. Mas o diário é meu, e eu faço do jeito que bem entender. Muitos tem seu diário exposto depois de sua morte, no meu caso vou compartilhar o que sinto conforme o escrevo; guardar pra si mesmo só faz você se sentir mais sozinho, seus pensamentos são simplesmente perdidos nos cosmos,como se nunca tivesse tido pensado ou sentido. Posso ter um registro e que todos que quiserem podem ver, se identificar, opinar,contra dizer e com sorte, até rir.
Nada de meu querido diário.
Loucura. Esses últimos tempos achei que estava próximo dela, ou melhor, queria achar que estava. Sei que ser louco é muito mais ousado do que posso ser agora. Ser louco é ser você mesmo sem medos ou receios, é se libertar de tudo, não ligar para o que os outros vão pensar. Ser louco é não conter mais seus pensamentos, é não mais se confundir com eles, ao contrário do que acham. O turbilhão de emoções e vontades se expõe naturalmente, não sendo mais vontades e sim feitos.
Por isso não cheguei à loucura. Estou em um estado que penso demais, em que me preocupo demais. Não há mais carpe diem, não há mais inocência. Agora tenho pressão. Uma pressão que nem existe, uma pressão ilusória feita por mim mesmo, o que me angustia.
Eu estou conversando sozinho mais constantemente. Agora são "diálogos" elaborados, um sou eu mesmo, ou outro sou eu, mas como se eu tivesse uma sabedoria muito além, como se fosse um conselheiro. Acho que é um resquício dos tempos que eu orava para Deus. No caso eu só agradecia e pedia. Depois comecei a tratar Deus como uma parte de mim, e poderia falar sem formalidades e poupar palavras, já que ele poderia entender o que eu sentia sem falar uma palavra. Confesso que ainda agradeço-o ou faço pedidos, mas minha visão sobre ele é totalmente diferente daquela que a igreja me impunha. Um dia eu falo o que acho de deus. No caso quero retornar ao meu "diálogo" comigo mesmo.
-Por que eu ando estranho? Como se algum sentimento me angustiasse, eu não consigo saber, nem sei porque comecei a sentir isso...
-Bom, mais uma vez veio conversar sozinho não é? É mais fácil de deixar claro o que se passa pela sua mente, tentar decifrar pensamentos subjetivos.
-É...
-Então, você anda preocupado demais com o futuro, ainda mais com o fim do ano, que começam os vestibulares, e além, caso você passe, por mais que seja o que você quer, sua vida vai mudar, longe de casa, viver diferente de como está vivendo esses últimos 19 anos.
-...
-Além disso, está preocupado como irá viver sua vida. Fazer uma universidade é uma experiência que você quer viver, mas depois e durante ela, você tem que começar a criar uma “independência”, ou seja, começar a trabalhar e tal. Mas você não consegue se adequar a essa idéia, ter que se preocupar com mais uma coisa, um emprego? E sua vida? Vivê-la, as coisas boas, não ficar preso. Ter amigos ao lado, viajar, ver costumes e culturas diferentes. Mas não tem tempo pra tudo isso. Isso te preocupa.
-É, além do mais, eu sou muito preso, meu senso de certo e errado fica em constante conflito, e me sinto mal.
-Sua personalidade foi se formando por influências do que a sociedade toma por certo e errado, você não pôde se adequar a tirar suas próprias conclusões, apesar de que, agora você consegue enxergar com mais clareza e tirar suas próprias conclusões, mas ainda sim, se sente preso. Se sente preso por respeitar demais os outros, provavelmente uma parte incrustada na sua personalidade, talvez por causa do que seus pais sempre te passaram, você também se preocupa demais com sua imagem, você quer ser legal, quer ser bom pros outros. Às vezes você passa por cima das suas vontades por essa limitação. Não que ela seja ruim, respeitar os outros é formidável.
(parei de escrever pra comer lasanha.)
No caso também estou tentando transcrever um “diálogo” que tive. Mas há muitas falhas nele, não sou capaz de reproduzir com uma boa precisão, estou tentando deixar a idéia central de como foi.
-E como eu resolvo essas angústias, como vou me livrar delas, me libertar de minhas limitações?
-Nós vimos no filme clube da luta que para que uma pessoa se liberte ela precisa perder tudo. Acredito que isso seja uma verdade. Mas perder tudo é doloroso demais, mudaria totalmente sua personalidade, e pra que ser livre assim, não sei se a liberdade vale tanto a pena. Acredito que haja formas de você tornar-se mais livre.
-Perder tudo, é demais pra mim, não sei se alcançaria a liberdade depois disso, eu mesmo me penaria.
-Bom, talvez se seu emprego fosse ser um artista. Um Artista mesmo, fazendo suas manifestações e criações quando bem lhe calhasse, e com elas, tirasse seu sustento material, para manter uma casa, uma família quem sabe. Ai você poderia viajar, e fazer o que bem entender, sem o peso de compromissos. Mas o caminho até isso é difícil, além de competência, entraria em jogo contatos e sorte.
-Bom, eu me sinto um pouco mais esclarecido, apesar de não ter tido resultados concretos, ao menos já sei algumas coisas que me afligem com mais clareza.
Geralmente não tenho uma conclusão ou me despeço, o papo vai acabando e pronto.
O importante, é que eu fico mais esclarecido e extravaso, poderia até falar com outras pessoas, mas falando comigo mesmo, eu me conheço melhor, eu falo de mim comigo mesmo, uma espécie de reflexão mais forte. Quase uma meditação.
Outra coisa que gosto de fazer é, antes de dormir, deixar minha mente vazia. Tentar pelo menos, porque conforme for, umas vozes vão surgindo na minha mente, elas dizem frases aleatórias, citações breves, uma parte de algum diálogo desconhecido e aleatório, chamado, risos e palavras. As vozes variam, podem ser de conhecidos, atores e personagens ou desconhecidos. O Marco me disse que isso é uma técnica de meditação de alguma cultura acho, mas eu fazia porque uma vez aconteceu e comecei a repetir.
Escrevi esse texto ouvindo o álbum do Pink Floyd - Dark Side Of The Moon
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Legal essa ideia do diário público, mas eu continuo com o meu privado, apesar de não escrever todo dia, longe disso.
ResponderExcluirTambém tenho pensado muito, inclusive sobre Deus. Estou tendo aulas sobre teologia na facul, e tá sendo bem legal, dá pra desenvolver um pensamento crítico. E minhas ideias e opiniões mudaram MUITO a respeito do assunto. É tenso haha
É legal tentar esclarecer as ideias, é um exercício que nunca acaba. Muito bom!
Obrigado x]
ResponderExcluirBom, o meu está longe de ser um diário também.Mas vou colocando quando julgar necessário. Realmente meus pensamentos mudaram muito também durante o tempo.
Pouts! Quanto post novo! Calma que logo eu leio tudo e comento! xD Abraços
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